domingo, 21 de junho de 2009

O Reino de Cristo: São Papías e Pe Lacunza, S.J.

Cristo Rei


São Papias


Pe Manuel Lacunza, S. J.



Muita tinta tem-se derramado sobre o fato de São Papías ter tido contato direto com o Apóstolo São João, o escritor do Apocalipse. É bem provável que o testemunho de Santo Irineu de Lião sobre isso seja fidedigno. A Catholic Encyclopedia também defende que Papías foi discípulo do autor do Apocalipse e declara:



O Bispo Pápias de Hierápolis, discípulo de S. João,
surgiu como defensor do milenarismo. Ele afirmava que recebera a sua doutrina de
contemporâneos dos Apóstolos, e Irineu conta que outros ‘Presbíteros’, que
haviam visto e ouvido o discípulo João, aprenderam dele a crença no milenarismo
como parte da doutrina do Senhor. Segundo Eusébio
[1], Papias, em seu livro, asseverou que a
ressurreição dos mortos seria seguida de mil anos de um reino visível, glorioso
e terrestre de Cristo.”

Também São Justino, nascido na Palestina, que sofreu o martírio em Roma por volta de 165, Santo Irineu, bispo de Lião, que morreu em 202, Tertuliano, que morreu em 222, e o grande escritor Lactâncio, se encontram na lista daqueles que assim pensavam e ensinavam. Eles, se não tiveram contato direto com os apóstolos, foram contemporâneos aos mesmos e conviveram certamente com outros que tiveram contato com os primeiro escolhidos do Senhor, como é o caso de Papías.


O próprio São Pedro, primeiro pastor supremo, fala de um novo céu e de uma nova terra. Os elementos abrasados se dissolverão e tudo o que existe dará lugar a estes novos céus e terra. O Ap. 20 é muito claro. Façamos antes algumas considerações.


A obra "La venida del Messias en gloria y Majestad" , do Pe Manuel Lacunza, pode colocar lume em nossa forma de ver as coisas. Por ela podemos perceber que um dos maiores males que grassam já de longo data no mundo católico, está firmado numa certa negligência e indiferença no que se refere ao estudo da Divina Escritura. Se os fariseus e escribas tivessem sido diligentes no estudo das profecias, certamente não teriam rejeitado a Nosso Senhor Jesus Cristo. Atualmente, nos meios cristãos, também está a ocorrer a mesma coisa: partes importantes da Revelação sobre a vinda gloriosa de Cristo são omitidas ou simplesmente reduzidas ao âmbito do alegorismo. Como diz Lacunza, "já temos regras próprias para não entender jamais o que lemos na Escritura." Foi daí que surgiram as grandes heresias, dos alegorismos.


Ora, quando vemos as Testemunhas de Jeová negando a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e uma série de outras verdades, inclusive a da existência da Inferno, o que podemos pensar? A culpa seria da Escritura? Seria a Escritura tão ambígua para dar margem a tantas interpretações errôneas? Evidentemente, não! Quando lemos no Evangelho de São João que "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" e que "o Verbo se fez carne e habitou entre nós" não temos motivo algum para duvidar que Cristo é Deus encarnado. Mas por que as Testemunhas de Jeová não crêem nisso? A resposta funda-se primeiramente no fato de serem orgulhosos e não poderem, portanto, conceber o Mistério da Santíssima Trindade. Por isso eles criaram uma interpretação alegórica desta passagem tão clara da Escritura. Por que os protestantes não aceitam o fato de Nosso Senhor Jesus Cristo estar realmente presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade nas espécies consagradas do pão e do vinho? Pelo mesmo fato de interpretarem alegoricamente as palavras de Nosso Senhor. Por que motivo os "teólogos" como Ratzinger e outros insistem em aliar o Darwinismo à Criação, sendo que estes são diametralmente opostos? Igualmente pelo mesmo fato de insistirem no alegorismo. Ah, dizem eles, a ciência já muito avançou, portanto, não é possível crer que Deus tenha, literalmente, feito o homem, este deve ser fruto de uma série de processos evolutivos fomentados pelo próprio Deus (para não parecer ateísmo) que teria infundido a potência evolutiva na matéria inerte. Pode, contudo, a matéria gerar a inteligência (razão) e, portanto, a alma? Gozam os homens de maior credibilidade que Deus? Não analisaram estes homens orgulhosos que tudo o que Deus disse por meio de Sua Santa Palavra cumpriu-se e está a se cumprir literalmente? Com estes alegorismos a Sagrada Escritura passou a ser um livro de enigmas. Evidentemente, na Escritura há algumas passagens difíceis, (não impossíveis!) de se entender, por isso o Apóstolo São Pedro reprova não as passagens, mas aos ignorantes e vacilantes que as torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a própria perdição. (II Pd 3, 16) Vejamos, amados irmãos, como temos que defender não somente a inerrância, mas também a objetividade das Sagradas Escrituras, mesmo quando as mesmas encerram algumas passagens difíceis. Outro ponto importante a ser esclarecido é o referente ao Magistério solene dos Papas e bispos fiéis reunidos nos Concílios. Quando a Igreja congregada no Espírito Santo proclamou solenemente verdades tão importantes da nossa Fé, na maioria dos Santos Concílios (Divindade de Cristo, por exemplo), a mesma nunca acrescentou nada à Revelação, mas apenas tinha como objetivo central o combate às heresias que se levantavam para confundir:


*Nicéia I – combateu o arianismo;
*Constantinopla I – combateu o macedonismo;
*Éfeso – combateu o nestorianismo e o pelagianismo (que vive até hoje);
*Calcedônia – combateu o eutioquismo;
*Constantinopla II – renovou a condenação do nestorianismo e condenou o origianismo;
*Constantinopla III – condenou o monotelismo;
*Nicéia II – condenou os iconoclastas;
*Constantinopla IV – condenou Fócio;
*Latrão I – condenou a Simonia e as investiduras leigas;
*Latrão II – condenou o cisma de Anacleto;
*Latrão III – condenou os albigenses;
*Latrão IV – condenou os albigenses e os valdenses;
*Constança – condenou o Concílio de Piza;
*Trento – condenou o protestantismo.

Temos que dar a devida atenção a este ponto porque, às vezes, tem-se a impressão de que a igreja afirmou tais coisas pelo fato de as Escrituras não terem sido suficientemente claras em si mesmas, o que não é verdade. Donde vemos que o Magistério não completa a Revelação, como se faltasse algo à mesma, mas somente a confirma e ensina. Recentemente, vi um teólogo dizendo algumas besteiras na televisão: “para os protestantes a Revelação encerrou-se com a Bíblia, para nós ela continua até hoje, através dos Concílios...” Tal afirmação não procede! (O teólogo ainda por cima teve a coragem de dizer que o Vaticano II faz parte da Revelação! Ora, este mesmo Concílio disse que a Revelação de Cristo encerrou-se na cruz! O que também não é verdade.)


A Igreja nos Concílios sempre tinha em vista, quando proclamava os dogmas, combater e refutar os heréticos que criavam confusões cheias de sofismas utilizando-se das próprias Escrituras. O problema não estava nas Escrituras, mas sim nos heréticos que as deturpavam. Então, a Igreja, para o bem dos fiéis, confirmava solenemente aquilo que sempre fora crido universalmente (TRADIÇÃO DIVINA) para a humilhação daqueles vacilantes de que falava o Apóstolo São Pedro.

É preciso reconhecer, no entanto, que há elementos, principalmente no contexto da escatologia, que a Santa Igreja recebeu - porque a Revelação dada é plena -, mas que ainda não foram explicitados, ou melhor, não tomaram o seu significado verdadeiro no entendimento dos fiéis. Havia, nos primeiros séculos, outros temas que, contudo, eram mais principais e urgentes para a salvação dos fiéis (profissão de Fé e sacramentos, por exemplo) em tempos de heresias, estes receberam o seu sentido real como deve ser perpetuamente mantido e entendido, senão, de outra forma, os fiéis se perderiam com significados múltiplos, como acontece nas seitas protestantes. A questão magna é: até que ponto os santos padres, principalmente os posteriores ao IV século, teriam a clareza devida do que vivemos hoje, neste tempo tão singular da história da humanidade? Não foi um grande perigo para a teologia este distanciamento do sentido intrínseco da Escritura? Podemos atualmente, contudo, enxergar os sentidos das profecias muito melhor, pois estamos mais próximos do cumprimento das mesmas, aliás, estamos vendo o seu cumprimento.Temos que compreender igualmente que há alguns critérios a seguir para não cairmos no livre exame das Escrituras, indo, possivelmente, contra coisas já definidas solenemente pela Igreja:


1º Critério: Que a passagem que se lê, ou melhor, que se interpreta, não pertença imediatamente à substância da Religião ou aos dogmas universais da Igreja, como também à moral. Sobre isso disse a Sessão IV do Concílio de Trento: "em coisas pertencentes à Fé e aos costumes que visam a propagação da Doutrina Cristã, violentando a Sagrada Escritura pra apoiar os seus ditames contra o sentido já dado pela Santa Mãe a Igreja, à qual privativamente cabe determinar o verdadeiro sentido e interpretação das sagradas letras; nem tão pouco contra o unânime consentimento dos padres."


2º Critério: Que a inteligência da passagem que se interpreta seja, por parte dos santos padres, de mera suspeita ou conjectura, não havendo, portanto, consenso unânime ou verdade declarada como de Fé.


3º Critério: Que aquele ponto que se interpreta não tenha sido tratado de propósito determinado pelos santos padres, de maneira que os mesmos tivessem provado, determinado e resolvido tal passagem como verdade e tendo tido o contrário por erro. Que a passagem interpretada tenha sido apenas tratada incidentemente em algum sermão ou homilia, não de maneira determinada e unânime.Seguindo estes critérios, podemos estudar confiantemente as Sagradas Escrituras, principalmente no que se refere à Escatologia ( a Parusia, a Ressurreição e o Reinado de Cristo, etc.), pois boa parte desta temática não pertence imediatamente ao dogma e à moral, e os antigos não a trataram com propósito determinado, além do que não há um consentimento unânime dos santos padres sobre isso.Sobre o Reinado de Cristo pudemos ver que é uma questão aberta na Igreja. Muitos, no entanto, pensam o contrário, pensam que a Igreja condenou o reinado em si. Estudando melhor a história i fiel poderá perceber que a crença no reinado de Cristo era um sentimento comum em muitos varões eclesiásticos e mártires, segundo as palavras do próprio São Jerônimo. Um erudito da atualidade, Dr. Homero Johas, assegura que realmente não há nenhuma condenação da Igreja em relação a isso. É, portanto, matéria livre.


Todavia, correm, hoje, os católicos o mesmo risco que os judeus da época de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles abraçaram a um sistema geral de concepções errôneas sobre as Escrituras, e se acomodaram ao mesmo deixando as Escrituras em si. Hoje também existe um sistema de idéias arbitrárias nos meios católicos no que é referente à Vinda Gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao que a antecede e ao que a sucederá. Naquilo que se ensina ainda faltam muitas coisas substanciais e que estão fora do seu legítimo lugar. Vejamos então um pequeno resumo daquilo que deveria ser ensinado: Nosso Senhor virá do céu à terra, acompanhado dos seus anjos e santos já ressuscitados. Virá para julgar os vivos e os mortos, e isso em dois juízos diversos no modo e no tempo. Deve, portanto, haver um espaço de tempo considerável entre a Vinda do Senhor e o Juízo dos mortos, ou ressurreição universal.Em relação ao milênio, há três grupos, os dois primeiros a Igreja condenou, não por causa do milênio, mas por causa das interpretações errôneas que aqueles faziam do mesmo:

I. Os herejes: colocavam nestas coisas a bem aventurança do homem. Reino de prazeres carnais. (Cerinto)


II. Os rabinos e judaizantes: No reinado de Cristo todos os homens serão obrigados a cunmprir a lei mosaica (circuncisão). Primazia judaica sobre o mundo. Dentre eles fez parte um bispo africano chamado Nepos.


III. Os católicos pios: uma multidão de santos e mártires, entre eles São Justino, Santo Irineu e São Papías que era amigo do apóstolo São João, com quem conversou diversas vezes. Cristo virá e reinará na terra por mil anos, os fiéis gozarão de delícias espirituais pela presença do senhor e no fim haverá uma prova final: satanás será solto. Após isso se dará o juízo final. Sobre eles disse Lactâncio: "esta é a doutrina dos santos, dos padres, dos profetas, é a que seguimos os cristãos."


O milênio católico, pela propagação dos primeiros mártires e pelo sentido intrínseco das Escrituras, é tão certo quanto o ar que respiramos. No entanto como será a vivência do mesmo isso só saberemos se cehgarmos lá. Que os adversários do reino de Cristo pensem bem para não jogarem ao chão a criança junto com a água suja.


A.M.D.G.V.M.


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*Ainda que seja verdadeiro o que disse Eusébio sobre Papías ter tido contato com um outro João (não o evangelista) podemos constatar que era um pensamento unânime em meio aos Padres Apostólicos a crença no reino milenar de Cristo.

sábado, 13 de junho de 2009

O ANTICRISTO: Guerra ou Paz?


O Anticristo será um líder que busca a paz e trava guerras. Na busca de paz ele será bem-sucedido e enganador; ao travar guerras ele será destemido e destrutivo. O Anticristo geralmente é descrito na Bíblia como um guerreiro. Suas atividades são resumidas em Daniel 9.27:


"Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele."


Em Apocalipse 6.2, João apresenta o Anticristo ao escrever: "Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer."


Nosso mundo precisa desesperadamente de paz, pessoas sinceras de vários contextos de vida trabalham e oram diariamente por uma paz duradoura. Na verdade, como crentes, somos incentivados pela Bíblia a orar por paz. Ainda assim, a instabilidade política é profunda em muitas regiões do mundo. A busca de uma paz permanente no Oriente Médio exige muita atenção e produz muitas manchetes; muitas vidas e carreiras foram sacrificadas na tentativa de trazer paz à região. Em última análise, no entanto, não haverá paz duradoura no mundo enquanto ele não for governado por Jesus Cristo, o Príncipe da Paz.


Quando o Anticristo emergir, será reconhecido e aceito por causa de sua habilidade como pacificador. Como líder da confederação multinacional, ele imporá paz a Israel e ao Oriente Médio, iniciando e formulando um tratado de paz para Israel. O Dr. Walvoord escreve sobre essa paz:


Quando um gentio, líder de dez nações, apresentar um tratado de paz a Israel, este será imposto com força superior e não como um tratado de paz negociado, ainda que aparentemente inclua os elementos necessários para tal acordo. Ele incluirá a delimitação das fronteiras de Israel, o estabelecimento de relações comerciais com seus vizinhos – algo que Israel não tem atualmente, e, principalmente, oferecerá proteção contra ataques externos, o que permitirá que Israel relaxe seu estado de constante alerta militar. Também é possível prever que algumas tentativas serão feitas para abrir áreas sagradas de Jerusalém para todas as religiões a elas relacionadas.[1]


No decorrer dos séculos, cristãos e judeus seguiram a exortação de Salmo 122.6 de "orar pela paz de Jerusalém." Mas a falsa paz do Anticristo não é a "paz de Jerusalém." O tratado ou aliança de paz do Anticristo só trará uma paz temporária e superficial à região. A princípio ela poderá ser eficaz e reconfortante, mas não durará. Depois de três anos e meio ela será quebrada e os gritos de alegria serão substituídos por gritos de aflição. Como todas as obras de Satanás, a vitória proclamada acabará em dor e violência:


Apesar dos detalhes da aliança não serem revelados na Bíblia, aparentemente ela trará grande alívio para Israel e para todo o mundo. O tempo de paz é previsto nas profecias de Ezequiel que descrevem Israel como um povo "em repouso, que vive seguro" nessa época (Ez 38.11). Em 1 Tessalonicenses 5.3 a frase que estará na boca do povo antes da Grande Tribulação cair sobre eles é: "Paz e segurança." ...A paz de que Israel desfrutará por três anos e meio se transformará tragicamente numa paz falsa e no prelúdio de um tempo de angústia incomparável, quando dois de cada três israelitas morrerão na terra (Zacarias 13.8).[2]


Num determinado ponto, por volta da metade da Tribulação, a paz de Israel será desafiada por exércitos invasores do norte (Ezequiel 38-39). Esses exércitos atacarão Israel, desafiando a paz estabelecida pelo Anticristo e sua autoridade. Mas Deus intervirá a favor de Israel, protegendo-o e aniquilando os exércitos invasores (Ezequiel 38.19-39.5). Isso se realizará em parte por um terremoto (38.19,20), em parte por confusão militar (38.21), e por uma praga acompanhada de granizo e fogo (38.22).


Depois desse conflito e da quebra da aliança com Israel, o Anticristo se declarará líder mundial. Isso poderá ser resultado da sua vitória sobre os exércitos invasores. O Dr. Walvoord escreve que "o líder da confederação de dez nações se encontrará numa posição em que poderá proclamar-se ditador mundial, e aparentemente ninguém será forte o suficiente para lutar contra ele. Sem ter que lutar para conseguir isso, ele governará o mundo como instrumento de Satanás."[3] Seu poder e força aumentarão, assim como sua tirania, e isso resultará num desafio final da sua força militar e política, que culminará na batalha de Armagedom (Apocalipse 16.14-16). Como tantos líderes e governantes antes dele, o Anticristo prometerá paz e travará guerras. Ele entrará num conflito de conseqüências globais – um conflito definitivo do tipo "quem ganhar fica com tudo" – e será derrotado e destruído por Jesus Cristo (veja Salmo 2).
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Notas

Walvoord, Major Bible Prophecies, p. 319. Ibid., pp. 319, 320. Ibid., p. 341

sábado, 6 de junho de 2009

666: A Marca da Besta


Dentre todos os tópicos da Bíblia, talvez a marca da besta seja o que mais tem suscitado especulações e argumentações ridículas e bombásticas. Cristãos e não-cristãos debatem o significado de seu valor numérico. Mas o que diz, realmente, o texto bíblico?


O Número 666: Marca Registrada da Tribulação?

A questão central da Tribulação é: Quem tem o direito de governar, Deus ou Satanás? Deus vai provar que é Ele quem tem esse direito. Pela primeira e única vez na história, as pessoas terão uma data limite para aceitarem o Evangelho. Por enquanto, todos podem aceitar ou rejeitar essa mensagem em diferentes momentos da vida; alguns o fazem na infância, outros no início da fase adulta, outros na meia-idade, e alguns até na velhice. Mas, quando vier a Tribulação, as pessoas terão que tomar essa decisão de forma imediata ou compulsória por causa da marca da besta, de modo que toda a humanidade será deliberadamente dividida em dois segmentos. O elemento polarizador será precisamente a marca da besta.


A Bíblia ensina que o líder da campanha em defesa da marca da besta será o falso profeta, que está ligado à falsa religião (Ap 13.11-18). Apocalipse 13.15 deixa claro que o ponto-chave em tudo isso é adorar "a imagem da besta". A marca da besta é simplesmente um meio de forçar as pessoas a declararem do lado de quem estão: do Anticristo ou de Jesus Cristo. Todos terão que escolher um dos lados. Será impossível manter uma posição neutra ou ficar indeciso com relação a esse assunto. A Escritura é muito clara ao afirmar que os que não aceitarem a marca serão mortos. Toda a humanidade será forçada a escolher um dos lados: "...todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos" (Ap 13.16). O Dr. Robert Thomas comenta que essa construção retórica "abrange todas as pessoas, de todas as classes sociais, [...] ordenadas segundo sua condição financeira, [...] abrangendo todas as categorias culturais [...]. As três expressões são um recurso estilístico que traduz universalidade".[1] A Escritura é muito específica. O falso profeta vai exigir uma "marca" em sinal de lealdade e devoção à besta, e essa marca será "sobre a mão direita" – não a esquerda – "ou sobre a fronte" (Ap 13.16).


A palavra "marca" aparece em muitas passagens da Bíblia. Por exemplo, ela é usada várias vezes em Levítico, referindo-se a um sinal que torna o indivíduo cerimonialmente impuro, e está geralmente relacionada à lepra. É interessante notar que o modo como Ezequiel 9.4 usa a idéia de "marca" é semelhante ao de Apocalipse: "E lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela". Nessa passagem, o sinal serve para preservação, assim como o sangue espalhado nas ombreiras das portas livrou os hebreus durante a passagem do anjo da morte, como relata o Livro do Êxodo. Em Ezequiel, a marca é colocada na fronte, semelhantemente à do Apocalipse. Todas as sete ocorrências da palavra "marca" ou "sinal" (gr. charagma) no Novo Testamento em grego, encontram-se no Livro do Apocalipse, e todas se referem à "marca da besta" (Ap 13.16,17; 14.9,11; 16.2; 19.20; 20.4). O Dr. Thomas explica o significado desse termo na Antigüidade:


A marca deve ser algum tipo de tatuagem ou estigma, semelhante às que recebiam os soldados, escravos e devotos dos templos na época de João. Na Ásia Menor, os seguidores das religiões pagãs tinham prazer em exibir essas tatuagens para mostrar que serviam a um determinado deus. No Egito, Ptolomeu IV Filopátor (221-203 a.C.) marcava com o desenho de uma folha de trevo os judeus que se submetiam ao cadastramento, simbolizando a servidão ao deus Dionísio (cf. 3 Macabeus 2.29). Esse significado lembra a antiga prática de usar marcas para tornar pública a fé religiosa do seu portador (cf. Isaías 44.5), e também a prática de marcar os escravos a fogo com o nome ou símbolo de seu proprietário (cf. Gl 6.17). O termo charagma ("marca") também era usado para designar as imagens ou nomes dos imperadores, cunhadas nas moedas romanas e, portanto, poderia muito bem aplicar-se ao emblema da besta colocado sobre as pessoas.[2]


Alguns se perguntam por que foi usado um termo tão específico para designar a marca do Anticristo. Essa marca parece ser uma paródia do plano de Deus, principalmente no que se refere aos 144.000 "selados" de Apocalipse 7. O selo de Deus sobre Suas testemunhas muito provavelmente é invisível e tem o propósito de protegê-las do Anticristo. Por outro lado, o Anticristo oferece proteção contra a ira de Deus – uma promessa que ele não tem condições de cumprir – e sua marca é visível e externa. Como os que receberem a marca da besta o farão voluntariamente, é de supor que as pessoas sentirão um certo orgulho de terem, em essência, a Satanás como seu dono. O Dr. Thomas afirma: "A marca será visível e identificará todos os que se sujeitarem à besta".[3]


Uma Identificação Traiçoeira
Além de servir como indicador visível da devoção ao Anticristo, a marca será a identificação obrigatória em qualquer transação comercial na última metade da Tribulação (Ap 13.17). Este sempre foi o sonho de todos os tiranos da história – exercer um controle tão absoluto sobre seus vassalos a ponto de decidir quem pode comprar e quem pode vender. O historiador Sir William Ramsay comenta que Domiciano, imperador romano no primeiro século, "levou a teoria da divindade Imperial ao extremo e encorajou ao máximo a ‘delação’; [...] de modo que, de uma forma ou de outra, cada habitante das províncias da Ásia precisava demonstrar sua lealdade de modo claro e visível, ou então era imediatamente denunciado e ficava impossibilitado de participar da vida social e de exercer seu ofício".[4] No futuro, o Anticristo aperfeiçoará esse sistema com o auxílio da moderna tecnologia.


Ao longo da história, muitos têm tentado marcar certos grupos de pessoas para o extermínio, mas sempre houve alguns que conseguiram achar um meio de escapar. Porém, à medida que a tecnologia avança, parece haver uma possibilidade cada vez maior de bloquear praticamente todas as saídas. Essa hipótese é reforçada pelo emprego da palavra grega dunétai – "possa" (Ap 13.17), que é usada para transmitir a idéia do que "pode" ou "não pode" ser feito. O Anticristo não permitirá que alguém compre ou venda se não tiver a marca, e o que possibilitará a implantação desta política será o fato da sociedade do futuro não usar mais o dinheiro vivo como meio de troca. O controle da economia, ao nível individual, através da marca, encaixa-se perfeitamente no que a Bíblia diz a respeito do controle do comércio global pelo Anticristo, delineado em Apocalipse 17 e 18.


A segunda metade de Apocalipse 13.17 descreve a marca como "o nome da besta ou o número do seu nome". Isso significa que "o número do nome da besta é absolutamente equivalente ao nome, [...]. Essa equivalência indica que, como nome, ele é escrito com letras; mas, como número, é o análogo do nome escrito com algarismos".[5] O nome do Anticristo será expresso numericamente como "666".


Calculando o Número
Nesse ponto da profecia (Ap 13.18), o apóstolo João interrompe momentaneamente a narrativa da visão profética e passa a ensinar a seus leitores a maneira correta de interpretar o que havia dito. Uma leitura do Apocalipse demonstra claramente que os maus não entenderão o significado, porque rejeitaram a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Por outro lado, os demais que estiverem atravessando a Tribulação receberão sabedoria e entendimento para que possam discernir quem é o Anticristo e recusar a sua marca. A Bíblia deixa claro que aqueles que receberem a marca da besta não poderão ser salvos (Ap 14.9-11; 16.2; 19.20; 20.4) e passarão a eternidade no lago de fogo. O fato de João usar essa passagem crucial para transmitir sabedoria e entendimento aos crentes, com relação a um assunto de conseqüências eternas, mostra que Deus proverá o conhecimento necessário para que o Seu povo possa segui-lO fielmente.


Mas o que essa sabedoria e esse conhecimento permitem que os crentes façam? A passagem diz que podemos "calcular". Calcular o quê? Podemos calcular o número da besta.


O principal propósito de alertar os crentes sobre a marca é permitir que eles saibam que, quando em forma de número, o "nome" da besta será 666. Assim, os crentes que estiverem passando pela Tribulação, quando lhes for sugerido que recebam o número 666 na fronte ou na mão direita, deverão rejeitá-lo, mesmo que isso signifique a morte. Outra conclusão que podemos tirar é que qualquer marca ou dispositivo oferecido antes dessa época não é a marca da besta que deve ser evitada.


Portanto, não há motivo para os cristãos de hoje encararem o número 666 de forma supersticiosa. Se o nosso endereço, número de telefone ou código postal incluem esse número, não precisamos ter medo de que algum poder satânico ou místico nos atingirá. Por outro lado, temos que reconhecer que muitos ocultistas e satanistas são atraídos por esse número por sua conexão com a futura manifestação do mal. Porém, o número em si não tem poderes sobrenaturais. Quando um crente acredita nisso, já caiu na armadilha da superstição. A Bíblia ensina que não há nenhum motivo para atribuir poderes místicos ao número 666.


A Carroça na Frente dos Bois
Muitos têm tentado descobrir a identidade do Anticristo através de cálculos numéricos. Isso é pura perda de tempo. A lista telefônica está cheia de nomes que poderiam ser a solução do enigma, mas a sabedoria para "calcular" o nome não é para ser aplicada agora, pois isso seria colocar a carroça adiante dos bois. Esse conhecimento é para ser usado pelos cristãos durante a Tribulação.


Em 2 Tessalonicenses 2, São Paulo ensina que, durante a presente era da Igreja, o Anticristo está sendo detido. Ele será "revelado somente em ocasião própria" (v.6). Ao escolher a palavra "revelado", o Espírito Santo quis indicar que a identidade do Anticristo estará oculta até a hora de sua revelação, que ocorrerá em algum momento após o Arrebatamento da Igreja. Portanto, não é possível saber quem é o Anticristo antes da "ocasião própria". O Apocalipse deixa bem claro que os cristãos saberão na hora certa quem é o Anticristo.


Como apontamos acima, o Apocalipse não deixa dúvida de que durante a Tribulação todos os cristãos saberão que receber a marca da besta será o mesmo que rejeitar a Cristo. Durante a Tribulação, todos os cristãos terão plena consciência disso onde quer que estejam. Nenhuma das hipóteses levantadas no passado, ou que venham a ser propostas antes da Tribulação, merece crédito.


Apocalipse 13.17-18 diz claramente que o número 666 será a marca que as pessoas terão que usar na fronte ou na mão direita. Em toda a história, ninguém jamais propôs a utilização desse número em condições semelhantes às da Tribulação, de modo que todas as hipóteses já levantadas a respeito da identidade do Anticristo podem ser descartadas.


O mais importante nessa passagem é que podemos nos alegrar em saber que a identificação do futuro falso Cristo ainda não é possível, mas o será quando ele ascender ao trono. Com certeza, aquele a quem o número 666 se aplica é alguém que pertence a uma época posterior ao período em que João viveu, pois ele deixa claro que alguém iria reconhecer esse número. Se nem a geração de João nem a seguinte foi capaz de discerni-lo, isso significa que a geração que poderá identificar o Anticristo forçosamente estava (e ainda está) no futuro. No passado, houve várias figuras políticas que tipificaram características e ações desse futuro personagem, mas nenhum dos anticristos anteriores se encaixa perfeitamente no retrato e no contexto do Anticristo do final dos tempos.[6]


A Relação entre Tecnologia e a Marca da Besta
Muitos têm feito as mais variadas hipóteses sobre a marca da besta. Alguns dizem que ela será como o código de barras utilizado para identificação universal de produtos. Outros imaginam que seja um chip implantado sob a pele, ou uma marca invisível que possa ser lida por um scanner. Contudo, essas conjeturas não estão de acordo com o que a Bíblia diz.
A marca da besta – 666 – não é a tecnologia do dinheiro virtual nem um dispositivo de biometria. A Bíblia afirma de forma precisa que ela será:


a marca do Anticristo, identificada com sua pessoa
o número 666, não uma representação
uma marca, como uma tatuagem
visível a olho nu
sobre a pele, e não dentro da pele
facilmente reconhecível, e não duvidosa
recebida de forma voluntária; portanto, as pessoas não serão ludibriadas para recebê-la involuntariamente
usada após o Arrebatamento, e não antes
usada na segunda metade da Tribulação
necessária para comprar e vender
recebida universalmente por todos os não-cristãos, mas rejeitada pelos cristãos
uma demonstração de adoração e lealdade ao Anticristo
promovida pelo falso profeta
uma opção que selará o destino de todos os que a receberem, levando-os ao castigo eterno no lago de fogo.


Talvez na história ou na Bíblia nenhum outro número tenha atraído tanto a atenção de cristãos e não-cristãos quanto o "666". Até mesmo os que ignoram totalmente os planos de Deus para o futuro, conforme a revelação bíblica, sabem que esse número tem um significado importante. Escritores religiosos ou seculares, cineastas, artistas e críticos de arte fazem menção, exibem ou discorrem a respeito dele. Ele tem sido usado e abusado por evangélicos e por membros de todos os credos, tendo sido objeto de muita especulação inútil. Freqüentemente, pessoas que se dedicam com sinceridade ao estudo da profecia bíblica associam esse número à tecnologia disponível em sua época, com o intuito de demonstrar a relevância de sua interpretação. Mas, fazer isso é colocar "a carroça na frente dos bois", pois a profecia e a Bíblia não ganham credibilidade ou legitimidade em função da cultura ou da tecnologia.


Conclusão
O fato da sociedade do futuro não utilizar mais o dinheiro vivo será usado pelo Anticristo. Entretanto, seja qual for o meio de troca substituto, ele não será a marca do 666. A tecnologia disponível na época da ascensão do Anticristo será aplicada com propósitos malignos. Ela será empregada, juntamente com a marca, para controlar o comércio (como afirma Apocalipse 13.17). Sendo assim, é possível que se usem implantes de chips, tecnologias de escaneamento de imagens e biometria para implementar a sociedade amonetária do Anticristo, como um meio de implantar a política que impedirá qualquer pessoa de comprar ou vender se não tiver a marca da besta. O avanço da tecnologia é mais um dos aspectos que mostram que o cenário para a ascensão do Anticristo está sendo preparado. Maranata!

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1-Robert L. Thomas, Revelation 8-22: An Exegetical Commentary (Chicago: Moody Press, 1995), pp. 179-80.
2-Thomas, Revelation 8-22, p. 181.
3-Thomas, Revelation 8-22, p. 181.
4-Sir William Ramsay, The Letters to the Seven Churches (New York: A. C. Armstrong & Son, 1904), p. 107.
5-Thomas, Revelation 8-22, p. 182.
6-Thomas, Revelation 8-22, p. 185.